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Há artistas que iluminam. Há artistas que são como faróis. Ocorre-me este metaforologia lumínico-sinalética a propósito do labor de Eunice Artur. Beuys, Joseph Beuys, o farol que me ocorreu, é um artista total, que viu a Natureza como componente da cidadania contemporânea. Entendia o que chamamos ‘arte’ como Plastik e foi profeta imparável de uma arte da natureza, do vivo (e portanto também do morto) e do que os artistas são capazes de sacralizar com seu amor pela matéria e sua transformação – sua manifestação em forma. Plástica é com efeito a realidade, em várias dimensões: no visível e objetual, e no invisível e energético que se afirma no processo de criação: o movimento que leva à forma, forma essa que pode conter uma paisagem inteira.
Voltemos à Eunice por este caminho: o seu amor por uma planta – agave – desvela-se paixão por uma mensagem que transcende o humano. A agave que ela traz ao Torrão, composta ao longo de anos de uma laboriosa praxis é conjunto de fragmentos entrelaçados. E é energicamente um monstro, um anjo negro e calado, que dança à medida dos nossos passos em volta e monstro adentro. Na alva brancura do ALI, Eunice soube conter seu impulso pela(s) sombra(s) e realizar uma de suas peças mais claras. Evidente, senão luminosa. A Natureza está ali a dizer ao que vem, para quem a quiser escutar. E a artista serve-a como que num ritual, com o carinho de uma mão que afaga o que, não tendo nome, nos é ao final tão próximo. É só prestarmos-lhe atenção. Num olhar económico, simples, direto, que assim abre o horizonte da abundância que é viver neste planeta. MCC
Marginata é sobre a repetição, intensificação e a variação. São três estádios onde pretendi explorar o choque entre a marginalidade de uma planta, de ser estrangeira, de vir de fora, ser migrante. Agora, numa condição de não desejada. Falamos do nosso corpo enquanto arquivo do que é oferecido à terra pelo sol. A transformação enquanto objecto agora em algo contemplável, etéreo, belo. A adequação a um lugar estranho, com extensão infinita da sua “pele”. A percepção do espaço e como esta se forma através do corpo em movimento. A Invasão como possibilidade de vida, como registo de uma memória do toque, voltar a essas ressonâncias e fluxo. A ambiguidade da escuta, um mundo, por vezes, inaudível e invisível que nos desperta os sentidos, que não se manifestam a maioria do tempo.
O que acontece quando damos voz a esses fenómenos e processos físicos desactivados? Quando pronunciamos os seus nomes, o que nos dizem eles? Permitimos o toque da nossa pele na pele deles? O que continuam eles a querer dizer-nos? Realmente estamos preparados para ouvir? Queremos realmente ouvi-los? EA
Fotos © Eunice Artur
2024 | 05
Curadoria: Mário Câmara Caeiro
Colaboração: Turma do 6.º ano do Agrupamento de Escolas do Torrão | Professor Tiago Bacalhau
Agradecimentos especiais: Nazaré e Armando