Palavra-sinal, mensagem poética

Nevacor!

Stefan Kornacki e Mário Câmara Caeiro

Texto . Palavra . Sinal . Letreiro . Tipografia . Mensagem . Poesia . In situ

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Reinstalação de letreiro comercial antigo
Texto . Palavra . Sinal . Letreiro . Tipografia . Mensagem . Poesia . In situ

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Reinstalação de letreiro comercial antigo
Numa parede recuperada do antigo Cerrado do Lagar, um letreiro luminoso em ruínas, recuperado em Lisboa, como que começa a falar. O ato criativo foca-se na inscrição das letras in situ. No espaço visível. Tal gesto-conceito recorda-nos, à escala urbana e à entrada da Vila, que nem todas as palavras são levadas pelo vento.

nevacor! é um happening da palavra, desenhado em coletivo. O artista polaco Stefan Kornacki instala um velho letreiro comercial numa fachada do CERRADO. Durante a sua residência artística no Torrão, desenvolve um processo de co-criação poético-musical que inclui a solução técnica para a colocação das letras in situ. O processo envolve Frédéric Coustolsmentor –, Mário Câmara Caeiro – curador e co-autor, Ricardo Robalo – mestre da obra –, Mário Fagulha – poeta – e o músico e compositor polaco Jan Duszyński.

Perante a chegada destas letras ao Torrão em Fevereiro passado, Mário Fagulha orquestrou ele próprio um primeiro guião, poético, para estas releituras da palavra. neva e cor, separadas, definem uma paisagem surreal: neva cor no Torrão. Certo é, já nevou na vila, e mais do que uma vez. Branco. No dia de as letras se içarem aos céus, a voz humana presta singelo tributo à poesia – a voz que lê seja música para os ouvidos, paisagem-ideia. Momento urbano, com vista para a paisagem em mutação.

Qualquer conjunto de letras merece este exercício sobre o valor das palavras. As duas ‘palavras’ dentro da palavra nevacor são ‘neva’ e ‘cor’. Trata-se de uma celebração da energia e da renovação pela arte. Entre a terra e o céu, esta(s) palavra(s), tipografadas, tornadas sinal, relíquias do tempo que passou, são uma provocadora imagem de mudança e utopia, à luz e na realidade do passar do tempo. A memória urbana de um lugar (Santos, Lisboa) transmuta-se em comunicação urbana noutro Lugar, o nosso Torrão. Uma inusitada metáfora.

Stefan Kornacki orquestra a inscrição da palavra no espaço. Letras resgatadas da destruição são cuidadosamente elevadas a obra de arte – sem serem restauradas. Durante a residência do artista no Torrão é concebida uma peça musical, fruto do diálogo entre autores e o compositor convidado – Jan Duszyński. A peça será como expansão e tradução das palavras escritas para a linguagem universal da música, numa atmosfera cinemática. 

Símbolo mágico das novas cores que o CONVENTO DA TERRA traz à vila, a ação desenvolve-se em torno do conceito de Jogo Urbano (Urban Game) que o artista tem proposto no seu Inscription Project. Aqui, no Alentejo, acontece o jogar com o sentido na imagem urbana. Venha um jogo de palavras, com tantos sentidos escondidos na clareza da mensagem.

O Dom das Palavras | Neva Cor

Neva Cor é o infinito,
De cores simbolizando neve.
O Arco iris, os Astros,
as Estrelas, a Lua,
nas cores os contrastes!

Neva Cor Sinónimo,
De Neve é Tua.
Como caiu no Torrão em 1954.
Fizeram bonecos de neve
Com dois metros,
Não tinham frio,
Esfregavam as mãos
Na Matriz e
Praça Bernardim Ribeiro!

As palavras dizem incertezas,
O fim das crueldades
sem graça, ou vida, ou morte!
As palavras devem ser sentidas,
Com Ternura, com Amor!
Enraizadas nas certezas,
Com um sentido de união,
que a todos abraça!

Neva Cor pintada a pincel,
Palavras ilustradas,
Com tom de mel!
Numa cor misturada,
com a tua mão
Sonhar acordada
no meu Torrão!

Mário Fava Fagulha

Um par de anagramas de nevacor – cano ver, cerva on… – reconfirma de que são feitas as palavras: de letras soltas. Juntas, essas letras geram possibilidades. Geram palavras que geram frases, sentenças, orações. Quando estas fazem sentido, ampliam-nos os sentidos. 

Ora o anagramar de nevacor no Torrão não poderia ser mais simples e direto. A intuição fez das suas. Consistiu em partir a palavra em dois, em separar ‘neva’ de ‘cor’, para dar à mensagem subitamente poética um sentido mais direto que o implícito. Clarificar a leitura, a grafia, torna um dizer em notícia verdadeira no concreto do material, no contexto de um projeto urbano holístico. E assim o contingente – o estado em que estão as letras, o seu peso, a tipografia de uma época passada, o lettering em caixa baixa, o facto de terem estado guardadas sete anos no armazém – torna-se, acreditam os autores, pungente.

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