Pedras que falam

O Crepúsculo

Katie Lagast

Espaço | Tempo | Perambulação | Lugar | Memória | Religião | Interculturalidade

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Investigação artística em memória urbana
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Investigação artística em memória urbana
Uma muralha de pedra – o que terá chegado até nós da maior musalla em Portugal – é uma referência urbana que para muitos passa despercebida. Impressionada pela forma como aquelas pedras desenham padrões inspiradores, a artista parte dessas matrizes para uma investigação sobre memórias do lugar obscurecidas pelo tempo.

A musalla é o espaço ao ar livre, junto a uma mesquita, dedicado à oração. Ideia fundamental é estabelecer uma ligação entre a “Musalla do HisnTurrus” e as igrejas e capelas do Torrão, uma ponte simbólica entre as culturas árabe e cristã, Islão e Catolicismo. O projeto culminará com uma instalação.

É certo que nem todo o muro à Rua do Poço Velho foi erguido na altura da construção da mesquita que aí terá existido. Mas com certeza há partes dela, pedras e outros detalhes, que remontam a esse período da história da vila. No momento inicial do seu processo de criação, a artista, tocada pela composição aparentemente aleatória de certos troços, utilizá-los-á como referência material para o rememorar desse momento histórico em que o Torrão foi aldeia muçulmana e habitada por mouros.

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Katie Lagast contextualiza assim a origem desta investigação-ação, que foi despoletada por um passeio pelas ruas em que aquele muro lhe chamou a atenção: “Vejo este trabalho não apenas como uma reconexão de duas religiões e muitas grandes e pequenas histórias, mas também como uma apropriação das memórias e símbolos dum tempo passado, usando a antiga parede e seus relevos e padrões para criar uma obra-âncora dentro da minha própria obra.”

O Crepúsculo, enquanto instalação e obra final, em vidro colorido, tem potencial de itinerância e de adaptação in situ a vários espaços sagrados, no Torrão ou noutras vilas e cidades. Destina-se primordialmente a uma ou mais igrejas no Torrão – dependendo da acessibilidade a cada um destes espaços. Os painéis de vidro permitem o projetar do exterior num espaço interior, algo que acontece frequentemente no labor da artista. A instalação evoca ainda um aspecto efêmero da relação entre tempo e espaço: a luz. Sintetiza Lagast, em setembro de 2023: “Durante as minhas estadias no Torrão, vou começar as minhas investigações a andar pelas ruas da vila, a olhar para paredes e muros, a tirar fotografias, a investigar o que está debaixo dos meus pés ou entre as pedras, a examinar a singularidade da paisagem: pedras, paredes, calçada ou tampas de ralos. Procurarei resquícios de memória urbana e investigarei vestígios históricos que finalmente se materializarão num arquivo petrificado de memórias que podem crescer no tempo (e que eventualmente podem ser apresentadas na forma de uma revista, de um livro, de um website ou em espaços expositivos). Transformo e transmuto os achados, os restos, o visionado, em objetos tangíveis de beleza e contemplação. Preservando assim fatias de espaço e tempo que poucas pessoas se importam em notar.”

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